sexta-feira, 10 de abril de 2009

Navegações os Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mas o mais metodicamente planeado, o mais ponderadamente prosseguido dos três empreendimentos, era o que dirigia para a Índia dos prodígios e das opulências as vistas proféticas do grande Infante. Para que aí aportassem navios europeus havia um problema prévio a resolver, o da comunicabilidade do Atlântico com o Índico. A circum-navegação da África era a tentativa que se impunha, implicando a consequente exploração do litoral africano. Foi sobretudo nessa gigantesca empresa, chamando a si homens entendidos em navegação e cosmografia, despendendo os ricos proventos da Ordem de Cristo de que era Mestre, vencendo os pavores e as abusões que obsidiavam as imaginações dos mareantes, que D. Henrique empenhou a força do seu génio e da sua perseverança. A bússola, o astrolábio, o quadrante, com a ciência arábica, assimilada por Afonso X, o rei sábio de Castela, e a cartografia conjectural dos cosmógrafos medievais, eram os elementos científicos, aliás bastante precários, que guiariam os nautas portugueses na audaciosa tarefa. Quanto ao material naval, era ele ao tempo principalmente representado por navios redondos, pesados e ronceiros, de velas de pendão que só permitiam navegar com vento da roda, e navios longos, de remo, que exigiam muitos braços como força motriz e não acomodavam provisões para viagens largas. Bem aconselhado pelos técnicos, o Infante recorreu então, como mais propícios para as suas explorações, aos barcos usados pelos pescadores da costa. E entre eles preferiu a caravela, derivada do caravo mourisco, embarcação ligeira mas sólida, que, com o seu aparelho de duas ou três velas latinas triangulares, realizava, acaso pela primeira vez no mar alto, aquele paradoxo,que ainda há menos de um seculo confundia o claro engenho de Teófilo Gautier, isto é, navegar com o auxílio do vento de encontro ao mesmo vento. Foi com efeito a relativa facilidade de bolinar que levou os navegadores portugueses a escolher e melhorar este tipo naval, precioso sobretudo para a torna-viagem das expedições africanas, habitualmente com ventos ponteiros do quadrante nordeste. O exemplo dos portugueses aproveitou a outras nações martítimas, especialmente à Espanha, que para as suas explorações adoptou, embora modificando-o, o tipo naval da caravela.

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