quarta-feira, 18 de novembro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Foi a primeira, pouco depois de D. João II subir ao trono , a edificação da fortaleza de S. Jorge da Mina, pelo ilustre navegador Diogo de Azambuja. Depois, em 1484, Diogo Cão descobre o rio Congo ou Zaire, em cuja embocadura coloca o primeiro padrão de pedra, com uma cruz no topo e as armas de Portugal numa das faces. Numa segunda viagem, depois de estabelecer relações políticas com o soba negro da região, alonga as suas explorações até a Manga das Areias, hoje designada nas cartas pelo nome inglês de Cape Cross, a 22 graus de latitude sul.

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

Ó maxilar caído da Europa
com quebradiços artelhos de ballet
Valsa de naftalina pendurada
na beiçola de Francisco José

terça-feira, 17 de novembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

--Voltou o nevoeiro -- disse alguém.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

As crianças têm disto!

sábado, 31 de outubro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Muito mais importantes foram, como acima dissemos, as expedições de descoberta realizadas no mesmo reinado.

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

ó valsa póstuma do fim do século expulsa
Num pelo do bigode hitleriano
fazem acrobacias as semifusas
apócrifas do cavalo floriano

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

A Lua já tinha desaparecido e o nevoeiro, aéreo e branco, começava a subir do mar e entrava pela janela aberta.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Eram ciúmes.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Em 1490 uma armada de cinquenta velas do Algarve foi a Ceuta para defender a praça contra uma denunciada traição. Não se levou esta a efeito, e a força portuguesa empregou-se na destruição de duas povoações mouras: Targa, no litoral mediterrâneo perto de Ceuta, e Camice, situada no interior, sobre ásperas serras.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

Do lustre de sustenidos desta ópera
têm os pingentes o tilintar do schilling
ó viena ó canção confessada no heuriger
à noite que esvazia as videiras no Grizing

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Era tarde. E o brilho da hora tardia deslizava docemente em roda das mãos e dos copos sobre a mesa polida.

domingo, 18 de outubro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Depois desatei num choro apaixonado.

sábado, 17 de outubro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Em 1489 pensou o rei em fundar uma vila, com o nome de Graciosa, acima da foz do Rio de Larache. A bem provida armada, que para esse fim mandou, foi acometida fortemente pelos mouros. Apesar do reforço depois enviado, os portugueses, cercados, viram-se em mortais angústias. O próprio D. João II quis ir, com uma expedição poderosa, em seu auxílio. Mas os mouros, receosos, propuseram a paz aos portugueses, que reembaracaram com todos os seus petrechos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

Electrodomesticada já boceja
viena à meia-noite e cicatriza
com ressonos a ferida de Beethoven
que ainda sangra uma rosa para Elisa

domingo, 11 de outubro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Lá fora as lâmpadas das ruas já se tinham apagado havia muito tempo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Que linda rapariga e como os cortejos abundavam! Salomé era folgazã e alegre. Os alegres quase sempre são bons. Em a vendo enlaçada ao seu par, requebrando voluptuosamente o corpo e os braços nos meneios daquela dança, davam-me uns ímpetos de furor despropositado. De uma vez saltei a ela, marinhando como um gato assanhado, arranquei-lhe o lenço de seda de cores brilhantes que punha na cabeça -- na forma do mais gracioso toucado -- e lavei-lhe a cara com as unhas!

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

No ano seguinte, uma armada de trinta navios, capitaneada por D. Diogo de Almeida, fez um desembarque perto de Anafé, desbaratando grandes forças de mouros e cativando quatrocentas almas, com opulento despojo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

No Kursalon em bronze encarcerado
maestro de uma mania que não passa
Johannes Strauss rege a expedição
arqueológica às ruínas da valsa

domingo, 27 de setembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Eu estava sentada em frente dele, do outro lado da pequena mesa. Ele esteve um longo tempo calado. Depois debruçou-se sobre a mesa e disse:
-- Ouve:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray,
Where all my dreams of yesterday
Are mine.

sábado, 26 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Eu é que era um flagelo, um verdadeiro demónio para Maria Salomé, a minha ama, nessas tardes ruidosas e festivais. A ela, em ouvindo o tamboril, dava-lhe a vertigem da dança e do canto.

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Em 1486, graças ao prestígio alcançado entre a mourama pelas armas portuguesas, os habitantes de Azamor fizeram-se espontaneamente tributários do rei de Portugal.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

A equitação extingue-se em fiacres
e o turista aluga-lhe o verdete
No giro coagulado das sombrinhas
incrusta-se o monóculo do coreto

sábado, 19 de setembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

No entanto ele não se confundia com um deus. Nos deuses ser e existir estão unidos. Nele a vida vivida nem sequer era a serva do ser, nem sequer era o chão que o ser pisava, mas apenas acaso sem nexo, desencontro, acidente sem forma e sem verdade, acidente desprezado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

As senhoras de sangre azul dançavam com o primeiro camponês que viesse tirá-las. Recusar seria caso inaudito e estrepitoso. Estavamos nas terras dos fueros. Daquele sangue não saía o carrasco. O soberbo e sombrio Fernando VII entrou -- a pé -- nas ruas de Bilbau.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

O curto reinado de D. João II, o Príncipe Perfeito, El Hombre, segundo a designação enfática de Isabel a Católica, apesar das tribulações internas que o atassalharam, foi contudo pródigo de sucessos importantíssimos na exploração geográfica do litoral africano. Antes porém de os mencionarmos convém resumir os acontecimentos da empresa marroquina, a qual também não foi descurada.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

do filme em musselina das sissis
resta uma fímbria esvaída de veados
e bosques que das sobras de opereta
chupam delidos bichosos rebuçados

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E, à medida que ele ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior à alma daqueles que o escutavam, como um mito. Ele era como um limite, como um marco que dissesse:
«Daqui em diante o mar não é mais navegável.»

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

A voz, extensa e afinada, gorgeando os zorzigos, que correspondem às malagueñas e playeras dos andaluzes. A pandeireta revolutenado nos ares.

domingo, 6 de setembro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Um navegador, de apelido Sequeira, ainda descobre o Cabo de Santa Catarina, a 2 graus de latitude sul. E é esta a derradeira descoberta realizada no reinado de D. Afonso V, falecido em 1481.

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

Lateja o rio derramada aorta
nocturna e arterial é a sua queixa
não quer ser bailarino nem azul
mas o guia michelin é que não deixa

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura. Enquanto falava, abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul duma chama de álcool. E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa. Talvez:
A memória longínqua duma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

As raparigas com as duas tranças, longas, atadas nas extremidades com laços de fitas de cores variadas e fortes; na cabeça uma flor do campo. A saia curta, a perna redonda, os jarretes finos, mas de ferro, como os seus monte nativos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Nesta mesma viagem, segundo parece, descobrem as Ilhas de S. Tomé, Ano Bom e Príncipe, que acham desertas no Golfo da Guiné. E é provável que por esta ocasião se tivesse encontrado igualmente a Ilha Formosa, mais tarde conhecida pelo nome do seu descobridor, Fernando Pó, fidalgo da casa de el-rei.

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

No Nussdorf da pastoral à heróica
enlaça-se viena vinhateira
solta o danúbio a língua poliglota
que traz pastosa de lamber holbeins

domingo, 30 de agosto de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E o homem que se tinha vindo sentar junto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens. E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.

sábado, 22 de agosto de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Que alegria de gente, que salubridade e vigor de povo!

domingo, 16 de agosto de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Por conta de Fernão Gomes, a quem el-rei arrendara o comércio da Guiné, com a cláusula de descobrir anualmente cem léguas de costa, João de Santarém e Pedro de Escobar descobrem em 1471 a costa da Mina, onde se fazia um importantíssimo comércio de ouro em pó. Seguem depois resolutamente pela costa fora, reconhecem que pela altura do Rio dos Camarões ela caminha novamente novamente para sul, continuam até atravessar o Equador, e entram pelo hemisfério austral, passando além do cabo a que Lopo Gonçalves dá o seu nome.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

VIII

que chegaram
aqui
de mão em mão
para caberem todos
na constelação
exígua
que fulgura
ao canto do quarto:
o baú ponteado
como o céu
por tachas amarelas,
por estrelas
pregadas na madeira
da árvore.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Quase toda a gente se tinha ido embora, e o vazio pousava docemente nas mesas e nas cadeiras, enquanto a noite, com a grande sombra das suas árvores atravessada pelo rumor do mar, entrava pela janela aberta.

sábado, 8 de agosto de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Havia, além do tamboril, o jogo da péla e o da barra, exercícios violentíssimos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Pela mesma época, o escudeiro Pedro de Sintra explora seiscentas milhas mais a sul do Rio Grande, onde chegara Cadamosto. Passa muito além de uma serra, à qual, por causa dos contínuo reboar dos trovões na sua cumiada, ele denominou Serra Leoa. Mais avante chega Soeiro da Costa, dobrando o Cabo das Palmas e atingindo o rio do seu nome, já muito para dentro do Golfo da Guiné.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

VII

é então que vejo
no halo mais antigo
a árvore desolada,
os ramos em que poisam
as aves
doutros livros,
e pressinto
as raízes
através da sílica
onde a família dorme
com os ossos dispostos
nessa arquitectura
duvidosa
de símbolos

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

A hora tardia dilatava, multiplicava e isolava todas as coisas.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Às tardes, nos domingos e dias festivos, havia tamboril e baile na praça da povoação, em frente da igreja. Nesses dias tudo corria à festa: crianças, raparigas, rapazes, mulheres e homens casados. Um delírio!

domingo, 2 de agosto de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Logo no ano seguinte à morte deste mandou ele construir na Ilha de Arguim um forte destinado a proteger o tráfico do ouro, já então muito desenvolvido.

sábado, 1 de agosto de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

VI

quase
mortalizante:
mas
de repente
como apareceram
as raízes sossegam
[que terão
encontrado?]
e retiram
com o mesmo fluxo

do mar que se retrai
e deixa
atrás de si
silêncio:

segunda-feira, 20 de julho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E assim ele tinha resolvido usar a sua própria vida como não sendo dele, usá-la como os músicos da orquestra usavam os seus fatos alugados.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

A vila onde vivíamos, em Deusto, era uma casa antiga. Ficava dentro de uma grande quinta, que se estendia até à beira da ria, daquela famosa ria onde se pescavam as angulas -- desconhecidas em toda a outra parte, que eu tenha notícia -- uma espécia de enguias muito delgadas, de um sabor esquisito, finíssimo. Iam, nesse tempo, para Madrid em neve; hoje irão facilmente pelo caminho-de-ferro.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

O rei, que por estas conquistas em terras marroquinas teve o cognome de Africano, não descurou contudo completamente as explorações marítimas iniciadas por seu glorioso tio.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

V

e perseguir-me
assim,
se a areia
donde vêm
já vitrificada
pelo tempo
oculta
a árvore que morreu:

procuram
instalar-se
no interior da linguagem
ou substituí-la
por uma
infiltração

terça-feira, 14 de julho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Era como se ele tivesse querido guardar o seu ser à margem do vivido, por não haver na vida acto nenhum onde o ser pudesse ser cumprido e a existência concreta fosse apenas deturpação, falsificação, profanação.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

O nosso distinto pintor Marciano Henriques da Silva disse-me que o havia conhecido em Itália, velho já, porém, são e vigoroso, usando o mesmo nome -- Augusto de Belvedere -- e sendo um restaurador de mérito.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

CONTINUAM AS EXPLORAÇÕES -- ENTRAM OS PORTUGUESES NO HEMISFÉRIO SUL

Falecido D. Henrique, foram as conquistas do norte de África que namoraram de preferência o espírito do cavalheiresco Afonso V, talvez em detrimento das explorações marítimas. Depois de nova e impetuosa tentativa contra Tânger, em 1463, e da destruição da cidade de Anafé (a actual Casa-Branca) pelo Infante D. Fernando, irmão do rei, realizou-se em 1471 outra empresa de maior alcance do que as precedentes. Contra Arzila se expediu uma cruzada de quatrocentos e setenta e sete navios, com vinte e quatro mil homens de peleja e seis mil mareantes. A praça foi tomada depois de um terrível assalto, e logo a seguir se desforraram os portugueses dos passados desastres, apoderandode-se de Tânger, e condecorando o soberano com o título de Rei de Portugal e dos Algarves, de Aquém e de Além-Mar em África.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

IV

no poema,
se a árvore
foi dispersa
em pranchas de soalho,
em móveis e baús
que fecham
para sempre
coisas
tão esquecidas,
como podem
romper
de súbito impetuosas
na aridez
do livro

quarta-feira, 8 de julho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E era difícil dizer de que tempo ele vinha; pois dos personagens das histórias dum tempo antigo ele tinha a voz, o olhar e os gestos, mas não o destino, nem a vida vivida. Era como se ele tivesse rejeitado todo o destino, toda a vida vivida, como uma coisa alheia, exterior e falsa, e lhe bastasse aquele momento, aquele bar, aquela mesa, aquela conversa, aquele copo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Era realista. Meu pai não o interrogou nunca sobre a sua procedência; para meu pai tinha a mais respeitável de todas -- ser inteligente, pobre, expatriado, infeliz.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Teve forçados colapsos, contudo, esta empresa, a que o ínclito príncipe votara o melhor da sua vida. Motivaram-nos por vezes incidentes de política interna que demandavam a sua intervenção, como aquele que teve desfecho, na desgraçada batalha de Alfarrobeira, com a morte do Infante D. Pedro, cuja elevada mentalidade muito contribuíra para a sugestão e o preparo das empresas navais. Mas, em duas conjunturas, foi o plano de expansão territorial pelo norte de África que deu origem ao afrouxamento das explorações da costa ocidental. Da primeira vez, em 1437, foi a desastrosa expedição de Tânger, onde ficou em reféns, morrendo seis anos depois no cativeiro de Fez, o Infante D. Fernando, irmão mais novo de D. Henrique. Mais tarde, em 1458, também este último, de concerto com seu juvenil sobrinho, o rei D. Afonso V, dirigiu, contra a cidade de Alcácer-Ceguer, a expedição de vinte e cinco mil homens, em duzentos e vinte navios, com o resultado da expugnação da praça após um dia de combate.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

III

seguindo o fio
da tinta
que desenha
as palavras
e tenta
fugir ao tumulto
em que as raízes
grassam,
engrossam, embaraçam
a escrita
e o escritor:

como podem
crescer de tal modo

terça-feira, 30 de junho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E já éramos poucos e apagava-se a luz da sala de baile, o hall estava deserto, na sala de jogo só já quatro jogadores esperavam a morte e quando entrávamos no bar um homem, sempre o mesmo, voltava-se no alto banco e, trazendo o seu corpo, vinha sentar-se connosco numa mesa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Belvedere!?... O seu apelido foi para nós sempre um mistério! Tinha emigrado de Lisboa, depois dos acontecimentos de 1833.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Mas esse ano de 1460, a que chegámos, é tristemente assinalado pela morte do Infante Navegador, o português que maior influência exerceu porventura na história do Mundo, pela sua iniciativa dos descobrimentos geográficos. À hora da sua morte deixava o contorno litoral de África delineado até além do Geba, o Rio Grande de Cadamosto. É certo que havia muito a fazer para que os homens chegassem ao conhecimento integral da Terra. Foi ele, porém, quem abriu o caminho, pois que quaisquer outras viagens, acaso anteriormente realizadas, não obedeciam a um plano sabiamente concebido, e foram escassíssimas em resultados práticos, tanto para a ciência, como para o comércio e para a colonização. Foi a tenacidade do grande Infante, favorecida pelo arrojo dos marinheiros portugueses, que conseguiu devassar os mistérios do Oceano e preparou a livre comunicação de todas as raças humanas através dos mares.

domingo, 21 de junho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

II

talvez poços,
secretas
fontes primitivas,
depósitos, recessos
onde haja
um pouco de água
que as raízes
procuram
de página
em página
com a sua obsessão,
múltiplos filamentos
trepassando
o papel,

sábado, 20 de junho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Estávamos à espera.

domingo, 14 de junho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Este moço pintor, que não alcançou um nome distinto na arte, tinha rara habilidade para apanhar semelhanças. Os retratos que tirou são como fotografias.

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Vê-se pois que, longe de guardar para os seus nacionais o exclusivo das navegações de descoberta, o grande Infante não duvidou aceitar os serviços oferecidos por estrangeiros cuja perícia fosse reconhecida. E a mesma norma de proceder foi geralmente seguida por seus sucessores.

sábado, 13 de junho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

I

As raízes da árvore
rebentam
nesta página
inesperadamente
por um motivo
obscuro
ou sem nenhum motivo,
invadem o poema
e estalam
monstruosas
buscando qualquer coisa
que está em estratos fundos,

sexta-feira, 12 de junho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Encostado à ombreira duma porta, um homem solitário, alto e magro como uma árvore no Inverno, tirou o relógio do bolso e viu as horas. Depois guardou o relógio depressa como se tivesse vergonha do tempo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Para nos deixar uma lembrança e recordação grata, retratou a meu pai, minha mãe, minha irmã e a mim, que tinha pouco mais de cinco anos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Na sua segunda viagem, em que se juntou ao genovês António de Noli, alcunhado Uso di Mare, e em que continuou as explorações até o Rio Geba, pretendeu ele depois ter descoberto o arquipélago de Cabo Verde, para onde o arrojou um temporal. Está porém hoje provado que o descobridor desse arquipélago foi o navegante português Diogo Gomes, que em 1460 aportou pela primeira vez à ilha por ele denominada de Sant'Iago. Ia em sua companhia aquele António de Noli, que, por o ter precedido no regresso a Lisboa, durante séculos gozou a glória de que esbulhou Diogo Gomes.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Porque a espera, a espera das coisas fantásticas, visíveis e reais, a espera das coisas destinadas, prometidas, pressentidas, ia-se tornando quase lucidamente alucinada.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Tive o seu retrato, que, infelizmente, um acaso destruiu, há três anos, numa mal agoirada mudança. Era em papel e feito por Augusto de Belvedere, um português emigrado, que se hospedou muitos meses em nossa casa. (2)

(2) O Xaile de Maria Salomé foi publicado no jornal A Arte. Muito tempo depois recebi, de letra desconhecida, uma carta. Era de Augusto de Belvedere, que tinha visto o meu artigo e me escrevia, narrando-me alguns passos da sua vida. Tinha tomado aquele nome para fugir a perseguições, quando se estabeleceu o governo constitucional. O seu verdadeiro nome era José Vicente de Sales. Fora pensionado em Roma, para estudar pintura, por D. João VI e depois por D. Miguel de Bragança. O pobre velho terminava a extensa carta por estas palavras: «Vivo hoje na cidade de Braga, minha pátria nativa, precisando do mais necessário à vida e com 84 anos.» Um ano depois, passando por Braga, fui visitá-lo. Estava ainda de boa aparência e comoveu-se muito, lembrando-se que me havia retratado quando eu tinha quatro anos.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Estas recompensas, assim como os lucros do comércio e a glória das descobertas, se estimulavam os nacionais, também atraíam os estrangeiros. Há notícias de vários que colaboraram eficazmente com os mareantes portugueses. Citam-se entre eles um gentil-homem de nome Baltasar, da casa do imperador de Áustria, Frederico III, que com Antão Gonçalves visitou o Rio do Ouro, assim denominado por aí se ter feito pela primeira vez o tráfico do precioso metal; o dinamarquês Valarte, que em 1448 tomou parte numa expedição próxima de Cabo Verde, onde foi morto pelos indígenas. Mas o mais notável desses estrangeiros foi sem dúvida, nestas expedições realizadas em vida do grande Infante, o veneziano Luís Cadamosto. Na sua primeira viagem, entre 1455 e 1456, explorou ele grande parte da costa já descoberta, enrando nos rios Senegal e Gâmbia e coligindo importantes informações de carácter geográfico e etnográfico.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Os músicos guardavam os instrumentos e fechavam o piano. Escuros e magros, desciam as escadas do palco e depois desapareciam, suponho que por um alçapão, pois nunca os vi sair por nenhuma porta. Ou talvez se diluíssem no ar. Ou talvez fossem deuses da Pérsia e viessem de noite, num tapete mágico, para contemplarem, disfarçados de músicoa, o fim da sensibilidade do Ocidente.

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Tinha uma massa de cabelos tal que, ao sacudi-los, cobriam-lhe densamente os ombros e os peitos, e quando, com ímpeto e esforço, os agarrava de ambas as mãos, deitando-os para trás por um elegante movimento de cabeça, feito no mesmo sentido, saltavam-lhe em ondas até ao artelho! Os olhos castanhos, transparentes, vivíssimos, admiráveis!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mais feliz do que Nuno Tristão, Álvaro Fernandes, sobrinho de Zarco, o descobridor da Madeira, alcançou cento e dez léguas ao sul de Cabo Verde, e por isso foi largamente recompensado pelo Infante D. Henrique e por seu irmão, o Infante D. Pedro, então regente do reino em nome de seu sobrinho D. Afonso V.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E as pessoas iam-se embora e as salas iam ficando vazias, passavam no ar interrogação e silêncio, como se qualquer coisa, qualquer coisa obscuramente desejada e prometida, não tivesse acontecido.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Era de mediana estatura e morena.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Em 1446 Nuno Tristão, um dos maiores navegadores do Infante, morre, com vinte dos seus companheiros, de azagaiadas empeçonhadas, na foz do Rio Grande, que tinha atingido. Os sobreviventes desta malfadada expedição, cinco apenas, conseguiram aportar a Lagos, no Algarve, depois de dois meses de aventurosa navegação.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E à medida que a noite ia avançando, à medida que quase toda a gente se ia indo embora, à medida que se ia fazendo tarde, a espera ia-se tornando quase consciente, quase visível. Dir-se-ia que o tempo perdido ia surgir e ser tocado.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Essa rapariga era filha daquelas bravias montanhas. Bailara e cantara à sombra das árvores do seu burgo -- a terra dos fueros!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Já uma expedição anterior, a de Dinis Dias, tinha chegado mais avante, ao Cabo Verde, , onde a costa começa a inflectir para sueste, para abrir o grande golfo, chamado hoje da Guiné.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Nas avenidas, nas tílias, nas varandas, no barulho dos passos sobre as ruas de saibro e areia, dos passos que faziam rolar as pequenas pedras soltas, no mar, igual a um búzio repetino o ressoar de passados temporais, e até no chão, nas mesas, nas cadeiras, parecia estar suspensa a espera dum regresso.

domingo, 19 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Quando eu nasci, meu pai ajustou uma robusta camponesa de Guernica para ser minha ama de leite. Maria Salomé tinha vinte anos ao entrar em nossa casa.*
*Meu pai e minha mãe eram portugueses, como eu me prezo de ser. Quando eu nasci minha mãe estava na força da vida e era robusta. Teve um abcesso nos peitos, e, com grande pesar seu, não pôde criar-me.

sábado, 18 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Para além do Cabo Bojador foi prosseguindo o reconhecimento da costa africana, interrompido ou afrouxado, por vezes, por investidas guerreiras ao norte de África e vários incidentes de política interna. Em 1441 Nuno Tristão chega ao Cabo Branco, e dois anos depois encontra a Ilha de Arguim, onde mais tarde se edificou um forte e se estabeleceu uma feitoria. Em 1445 entra Gomes Pires na foz do Senegal, grande rio de que os antigos geógrafos tinham vagas notícias, relacionando-o com o Nilo.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Às vezes, de repente, no fundo dos espelhos havia um brilho que era o brilho duma hora antiga. E então era como se as antigas noites de Agosto e as abolidas tardes de Setembro pudessem, como D. Sebastião, voltar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Pode ser. Eu era a peste dos ninhos e Trueba, apesar do seu amantíssimo coração, é provável que também o fosse. Oh! as crianças -- os inocentes cruéis! -- disse Victor Hugo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

São bastante obscuros os inícios desta empresa. Existem vagas referências a uma expedição realizada, sem resultado, logo no ano de 1415, por um fidalgo, chamado D. João de Castro, assim como de outra, no ano seguinte, capitaneada por Gonçalo Velho Cabral, à qual recentemente se atribuiu a glória de ter dobrado o Cabo Bojador. Mas esta façanha só resta notícia autêntica de ter sido levada a efeito, após repetidas tentativas, em 1434, por um escudeiro do Infante, de nome Gil Eanes. E pode dizer-se que foi este o primeiro estágio da exploração geográfica do litoral africano. Já muito antes disso, entre 1418 e 1420, levados por idêntico desígnio, dois cavaleiros da casa do Infante, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, tinham descoberto o arquipélago da Madeira. Desbravadas e povoadas em curto prazo, foram estas ilhas as primícias da empresa ultramarina de Portugal. Mas outra expedição, realizada pelos anos de 1431 ou 1432, por ordem do grande Infante, mostra que este não se desinteressava pela procura de terras ao Ocidente, ao mesmo tempo que procedia à exploração metódica da costa que se prolongava pelo sul fora. Essa expedição, capitaneada pelo mesmo Gonçalo Velho Cabral, reconheceu as ilhas dos Açores, que parece já terem sido visitadas por portugueses desde o século XIV. É também essa a primeira escala da rota marítma que há-de conduzir os navegadores europeus, sessenta anos mais tarde, a um novo e desconhecido continente.

domingo, 12 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Pois ali se falava muito no passado. Constantemente nas conversas se contavam histórias das gerações anteriores, histórias dum tempo em que o existir era mais definido e mais visível, um tempo em que os sentimentos se tornavam actos e os destinos se cumpriam inteiramente.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Fui criado em Deusto, muito próximo de Bilbau a a quatro léguas das Encartaciones, onde nasceu António de Trueba, o insigne cancionista. Muitas vezes estive com meu pai nas Encartaciones. Sabe Deus se na minha infância, debaixo dos arvoredos daquele vale fertilíssimo, não assaltei os ninhos e apedrejei as nogueiras e os castanheiros, em fraterna vagabundagem com o autor das Mães, da Nódoa da amora e de tantos primores de arte, que andam traduzidos nas principais línguas da Europa!

Navegações os Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mas o mais metodicamente planeado, o mais ponderadamente prosseguido dos três empreendimentos, era o que dirigia para a Índia dos prodígios e das opulências as vistas proféticas do grande Infante. Para que aí aportassem navios europeus havia um problema prévio a resolver, o da comunicabilidade do Atlântico com o Índico. A circum-navegação da África era a tentativa que se impunha, implicando a consequente exploração do litoral africano. Foi sobretudo nessa gigantesca empresa, chamando a si homens entendidos em navegação e cosmografia, despendendo os ricos proventos da Ordem de Cristo de que era Mestre, vencendo os pavores e as abusões que obsidiavam as imaginações dos mareantes, que D. Henrique empenhou a força do seu génio e da sua perseverança. A bússola, o astrolábio, o quadrante, com a ciência arábica, assimilada por Afonso X, o rei sábio de Castela, e a cartografia conjectural dos cosmógrafos medievais, eram os elementos científicos, aliás bastante precários, que guiariam os nautas portugueses na audaciosa tarefa. Quanto ao material naval, era ele ao tempo principalmente representado por navios redondos, pesados e ronceiros, de velas de pendão que só permitiam navegar com vento da roda, e navios longos, de remo, que exigiam muitos braços como força motriz e não acomodavam provisões para viagens largas. Bem aconselhado pelos técnicos, o Infante recorreu então, como mais propícios para as suas explorações, aos barcos usados pelos pescadores da costa. E entre eles preferiu a caravela, derivada do caravo mourisco, embarcação ligeira mas sólida, que, com o seu aparelho de duas ou três velas latinas triangulares, realizava, acaso pela primeira vez no mar alto, aquele paradoxo,que ainda há menos de um seculo confundia o claro engenho de Teófilo Gautier, isto é, navegar com o auxílio do vento de encontro ao mesmo vento. Foi com efeito a relativa facilidade de bolinar que levou os navegadores portugueses a escolher e melhorar este tipo naval, precioso sobretudo para a torna-viagem das expedições africanas, habitualmente com ventos ponteiros do quadrante nordeste. O exemplo dos portugueses aproveitou a outras nações martítimas, especialmente à Espanha, que para as suas explorações adoptou, embora modificando-o, o tipo naval da caravela.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E tão vagamente que muitas vezes era como se esperassem não o futuro, mas sim o passado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Nasci nas províncias das Vascongadas, na cidade de Bilbau. Uma bela província, uma heróica cidade -- a cidade de Diogo Lopes de Haro -- e que foi tão varonil na Idade Média, como intrépida para resistir aos assaltos da França, nos fins do século passado e princípios deste; que suportou com heróica perseverança, em 1835 e 1836, os repetidos cercos e, ainda, há sete anos, repeliu as arremetidas tigrinas dos servos de Deus e vassalos de D. Carlos de Bourbon -- o honrado e magnânimo.

domingo, 5 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

As outras duas empresas eram de mais transcendente desígnio: rsgar para o oeste e para o sul estradas luminosas através do Mistério Oceânico, obumbrado de brumas e terrores. Para oeste, uma geografia fantasiosa povoava de ilhas e semeava de lendas a amplidão aquosa. Vislmbravam-se restos floridos da perdida Atlântida. E tradições nebulosas rezavam de aventureiros que tinham pisado essas terras ocidentais de maravilha.

sábado, 4 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Mas não creio que ninguém, ali, nesse tempo, pensasse realmente no futuro. Só talvez dois ou três, cuja vida, mais tarde, tão eficiente e bem administrada, teve um ar de coisa previamente fabricada. Mas só esses. Os outros não faziam nenhum cálculo sobre o futuro. Para eles o presente era um prazo ilimitado de disponibilidade, suspensão e escolha. Não calculavam o futuro -- apenas, vagamente, o esperavam.

domingo, 29 de março de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Recordações de infância!... São gratas, principalmente ao declinar da vida! No Inverno, lembrarmo-nos do bom sol dos dias germinativos da Primavera, anima-nos e aquece-nos!

Navegaçãos dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

A primeira, já encetada e representativa de uma política imediatamente utilitária, consistia no prolongamento do território português pelo Algarve de Além-Mar, que se esfumava para as bandas do sul. Assim se desvaneceria no litoral peninsular a ameaça constante da pirataria berberesca, e se alargaria ao mesmo tempo o domínio espiritual da Cruz sobre as terras africanas, de onde espreitava o crescente islamita.

sábado, 28 de março de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E a noite lá fora, com os seus perfumes misturados, com os seus murmúrios e silêncios e as suas sombras e brilhos, parecia o rosto duma promessa.

terça-feira, 24 de março de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

E pronto (antes que isto tome por onde não deve...), vamos às Histórias de Meninos, estas que já tiveram o condão de deliciar o requintado e desprevenido gosto de Vitorino Nemésio. Com a esperança, minha, pelo menos, de virem a ter, agora reeditadas, mais leitores como ele.


PEDRO DA SILVEIRA


Visconde de Vilarinho de São Romão, Histórias de Meninos -- Para Quem não For Criança, Prefácio de Pedro da Silveira, Lisboa, Perspectivas & Realidades e Biblioteca Nacional, 1985, p. VII-XVI.

domingo, 22 de março de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Três eram as empresas que ele planeava para grandeza da sua pátria.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Havia um leve rumor de amores adolescentes. Era como o rumor da brisa. Pois era o princípio da vida e nada ainda nos tinha acontecido. Ainda nada era grave, trágico, nu e sangrento.

sábado, 21 de março de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Que com este livro singular, em muito aspectos surpreendente, o Visconde de Vilarinho de São Romão tem direito a não ser mais um autor omitido na história da literatura portuguesa, eis o que para mim é ponto assente. Tanto como o considerá-lo, no Neoclassicismo que tivemos (não medíocre assim como dizeis, senhores historiadores da literatura; mesmo na poesia bem superior à do Romantismo), em sua última geração, um dos melhores prosadores. Mas, claro está, as histórias da literatura portuguesa não sou eu quem as escreve, não mando nelas -- e, se mandasse, era para acabar com isso de copiarem Teófilo e depois virem dizer que ele fez mal, quando foi, até hoje, o único (com erros e tudo) que não incorreu, por exemplo, em vícios omissivo-excomungantes, seja à conta de que vaticanos, inquisitoriais ou de asilos psiquiátrios.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

O INFANTE D. HENRIQUE - EXPLORAÇÕES GEOGRÁFICAS
O Infante D. Henrique instalou-se no extremo sul-ocidental da Europa, perto do Cabo de S. Vicente, de onde os seus olhos de vidente abrangiam os horizontes para os quais iam as aspirações do seu grande espírito.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Outras vezes, quando não dançávamos, conversávamos em pequenos grupos, sentados nos compridos sofás forrados de verde encostados ao longo da parede.

domingo, 15 de março de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Para além de serem reflexo entre nós de um tipo de ficções intervenientes, meio realistas meio alegóricas quais as de Voltaire, os contos do Visconde de Vilarinho de São Romão tanto podem tomar-se como continuadores de uma tradição que vem lá de trás, de Trancoso e por aí adiante, como numa genealogia que se continua, e nos seus Trás-os-Montes alto-durienses, com Camilo, que muito é de lá, têm, por aí adiante, o Monteiro Ramalho das Histórias da Montanha e do Dom Tarouco, o Vieira da Costa e Entre Montanhas, mais lá o Campos Monteiro de algumas páginas dos Ares da Minha Serra, até, na outra margem do rio do vinho generoso, o Pina de Morais do Sangue Plebeu e o melhor de Sousa Costa, e de novo a norte, um pouco de Domingos Monteiro (conterrâneo, não esqueçamos, de Monteiro Ramalho), João de Araújo Correia, Guedes de Amorim, Miguel Torga (ali de São Martinho de Anta a escassos vinte quilómetros de Vilarinho), vários mais novos, como Graça Pina de Morais ou A. M. Pires Cabral. Salvas, de facto, as naturais diferenças de ver a vida, de estilos, que o fluir do tempo impôs, parece-me uma genealogia harmónica em seu devir, onde as Histórias de Meninos não figurarão de antepassado pobre. Ou não será assim?

sábado, 14 de março de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Quem sobretudo se notabilizou nessa empresa foi o Infante D. Henrique, filho segundo de D. João I. É ele que, estimulado porventura pelo êxito, incendido o espírito juvenil pelos problemas geográficos que nesses fins da Idade Média exaltam as imaginações, vai abrir à aventurosa nacionalidade a via radiante, sabiamente traçada, que deve conduzi-la à máxima das glórias e dar à humanidade a posse definitiva da Terra.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Depois respirávamos o perfume das tílias e levantávamos a cabeça para o céu cheio de estrelas e dizíamos:
-- Está uma noite maravilhosa!

terça-feira, 10 de março de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Mas ponhamos isto de parte que talvez pouco interesse para aqui. Já se sabe, aliás, que uma mudança no estilo literário ou artístico só se instala e desenvolve quando as circunstâncias do meio, o novo terreno de florescimento, a propiciam. Assim, em Portugal, o Romantismo com a revolução liberal vitoriosa, como já antes o Neoclassicismo sob o Marquês e na sequência do terramoto, sobretudo do banimento dos Jesuítas, seguros esteios do Barroco com seus jogos cultistas e conceptistas já então esgotados de todo conteúdo. (Neste caso, malgré o mesmo Marquês, que, partidário embora do progresso técnico e científico, de modo algum morria de amores pela literatura, nem bem pelas artes, considerada menos úteis.)

domingo, 8 de março de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Dirigiu-se a armada, sob o comando supremo do próprio rei, à cidade de Ceuta, que facilmente expugnou, a 21 de Agosto de 1415, e que desde então até hoje -- exemplo único na África inteira -- se tem constantemente mantido em poder de cristãos do Ocidente.

sábado, 7 de março de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E nós estendíamos o braço e arrancávamos dos ramos uma folha que trincávamos devagar entre os dentes.

Prefácio a Historias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Voltando ao Romantismo, que ainda não tínhamos senão como algo vaga vontade latente em 134-1835, é de acentuar que a este tempo Garrett não dera nem o passo estilístico nem bem o do fundo por se libertar da disciplina neo-clássica. Além do do mesmo Garrett, desde o prefácio do Catão, lembro, ao acaso, um não dispiciendo, assinado com as iniciais G.M. (de quem?) e saído, pouco antes da libertação de Lisboa, no .º 8 do Museu Literário, Útil e Divertido (assim mesmo, ao gosto do tempo...): «Da Poesia Clássica e da Romântica». Como se sabe, também Herculano, em Outubro do ano seguinte, se ocupou disto no n.º 1 do Repositório Literário da Sociedade de Ciências Médicas e de Literatura do Porto; mas, entrando na prática criativa, a «Elegia de Um Soldado», que um mês depois aí publica, tem ainda acentuado sabor neoclássico. Quanto às suas ficções, elas são, como se conhece, mais tardias, nenhuma delas, as depois recolhidas nas Lendas e Narrativas, anterior ao Outono de 1837. De romântico, o que por enquanto se ia podendo ler em português eram traduções, quase todas vindas de Paris e na maioria feitas por Caetano Lopes de Moura: de Chateaubriand desde 1820, com Átala) da Staël,de Walter Scott, de Charles Nodier, etc. Nosso, mesmo nada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Não são concordes os testemunhos sobre a constituição exacta dessa armada. Não deve porém computar-se em menos de duzentos o número de navios, na sua maioria de remos, suficientes para o transporte de cinquenta mil homens, entre soldados, mareantes e remeiros. Este cálculo nos dá uma indicação, tanto quanto possível precisa, de que, durante os primeiros anos do novo reinado a frota portuguesa se ia reconstituindo e revigorando.

domingo, 1 de março de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Às vezes nos intervalos das danças vínhamos encostar-nos a essas janelas: em frente havia uma casa com grandes paredes brancas, onde o luar ficava azul, e onde se desenhavam, trémulas, inquietas e vivas, as sombras das folhas cheias de gestos.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Não vou, obviamente, meter-me neste prefácio, porque prefácio contendo-se o mais possível na apresentação do autor, à crítica das Histórias de Meninos, seja estilística, seja do conteúdo. Aos críticos é que caberá fazê-la, revalorizando este livro, que, no meu entender, tem feito falta ao panorama da literatura portuguesa dos anos de transição em que [foi] escrito e pela primeira vez publicado. O que não quer dizer, todavia, que de todo me furte a, mais que avaliá-lo, situá-lo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Para dar as honras da cavalaria aos filhos mais velhos do rei de Portugal organizou-se, sob certas simulações, uma expedição naval contra os mouros de Marrocos, tradicionais devastadores das costas peninsulares.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Na parede que ficava à esquerda do palco havia três janelas que davam para uma pequena rua sossegada, onde raramente passava alguém.

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Escreveu-o outro transmontano, de Murça, Domingos Monteiro [de Albuquerque Amaral] (1744-1830), além de poeta, com o melhor de sua obra inédito, magistrado que ocupou, desde o tempo de Pombal, lugares vários de muito destaque. Foi amigo de Filinto -- um dos do Grupo da Ribeira das Naus -- e, como não poderia deixar de ser, dos beliscados n'Os Burros, do rabioso Padre Lagosta.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Foi isto em 1385. Mas só em 1411, pelo tratado de paz entre as coroas de Castela e de Portugal, a pequena nacionalidade ocidental pôde respirara com desafogo. E dentro em pouco cresceu o desejo de expandir, para fora das fronterias peninsulares, a actividade guerreira dos portugueses, inveterada após trinta anos de luta.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

No fundo da sala de baile havia um palco, onde os músicos tocavam, mas onde nunca se representava nada. Mas sabia-se que antigamente ali se tinha representado.

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão

Mas o anticlericalismo ou antifradismo, nem gratuito nem demagógico, de Vilarinho de São Romão, que lhe deu algumas das suas melhores narrativas, não foi ele o primeiro a pô-lo em literatura entre nós. Lembremo-nos de Filinto, de tanta sátira metrificada de outros neo-clássicos, umas impressas, a maior parte jazendo até hoje inéditas. Por dar um exemplo, recorro a este soneto, achado numa miscelânea de 1813, «Aos Que São Religiosos por Força da Vontade dos Pais»:
Anda poupando o sórdido avarento,
Sem à boca ou vestido haver respeito,
Té se julga honrado e satisfeito
Se embestigou um filho num convento.
Entra o moço com grão contentamento
Um ano a trabalhar por ser direito,
no fim faz-se uma festa, e frade aceito,
Começa um novo estudo bolorento:
Uma filosofia tola e escura,
Uma vã teologia, e isto acabado
Entra a torpe ambição da prelatura.
Ele, e o pai, o reino têm roubado,
E esta capa de Deus e da clausura
De inúteis mandriões nos tem minado! (1)
(1) Poesias Particulares, de Diversos Autores. Anno MDCCCXIII, p. 142. Biblioteca Nacional, Res. Cod. 8582.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mas a ruína da nascente marinha portuguesa esteve a pique de se consumar de vez, com a perda da independência, durante a crise tumultuosa que se seguiu à morte de Rei D. Fernando. Foi depois de prolongadas lutas intestinas e de uma invasão empreendida pelo rei de Castela, pretendente à coroa de Portugal, que o trono veio a ser ocupado por um monarca eleito do povo, o Mestre de Avis, D. João I.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

A sala de baile era grande e comprida. Tinha duas portas que davam para a varanda, duas portas que davam para o hall de entrada e uma quinta porta que dava para um hall mais pequeno que servia de passagem e ligação entre a sala de baile e o bar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, de Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Histórias de Meninos, para Quem não For Criança: um título que logo em si tem que se lhe diga. O autor, na verdade, não parece alheio à lição popular de contar, podendo entender-se que o faz seguindo o modelo das histórias que contavam lá para as suas bandas a meninos, mas dirigindo o ensino, a moral destas, ao entendimento dos adultos. E aí estão os contos de frades e freiras, ou candidatas a freiras, como no primeiro do livro, e alguns padres velhacos modelados por tantos que Teixeira Girão conheceria nos seus Trás-os-Montes. A outra edição, facilmente detectável, é a de Voltaire, cuja obra foi mais lida em Portugal logo que ia saindo do que pode pensar-se. A ironia, o humor de Candide, influíram as Histórias de Meninos quase tanto como a memória que o nosso autor guardava dos contos-facécias ou de ardis por si ouvidos em criança.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

O último rei da primeira dinastia, D. Fernando I, resgatou em grande parte o desastre de duas guerras com Castela, a que a sua leviandade arrastara o reino, com atiladas medidas de administração e fomento. Entre estas avulta a larga protecção dada às construções navais e a instituição dos seguros marítimos, em que Portugal se antecipou a todas as nações da Europa.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Pelas janelas abertas a música saía e ia perder-se lá fora por entre as ramagens dos plátanos, misturada com o leve estremecer da brisa e o ressoar fundo do mar.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Realmente, em 1825, como ainda dez anos depois, mesmo escrevendo-se lá fora, como sucedia ao exilado Garrett, o Romantismo não era ainda possível para nós, não estávamos maduros, digamos, para ele nos ser prática. Como estética de grupo, ou de voz isolada, aqui faltava-lhe, por enquanto, o que só a revolução liberal vitoriosa pôde proporcionar: uma verdadeira atmosfera de liberdade. Do mesmo modo que também necessitavam dela obras neo-clássicas como a do Visconde de Vilarinho de São Romão, de outro modo condenadas a manuscritas e aferrolhadas em bem seguras gavetas, ou à circulação anónima, por cópias. Filinto, se pôde escrever e publicar livremente tudo o que escrevera, foi à custa de estar longe, amargando o exílio.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Outras expedições e explorações atlânticas, que verosímeis induções atribuem aos portugueses durante o século XIV, ainda não se acham esclarecidas por documentos incontroversos. O que se pode ter como provado é que dois objectivos essenciais contribuíam, desde a fundação da nacionalidade, para o desenvolvimento da marinha e para os progressos da navegação: a defesa do litoral continuamente infestado pelos piratas que aninhavam nos portos berberescos, e a indústria da pesca, que levava os arrojados mareantes a considerável distância das costas. Além disso, o tráfico marítimo tinha-se tornado florescente, graças à abundância de cereais, vinhos e outros géneros, cambiados com mercadorias que afluíam do estrangeiro.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Às vezes alguém se queixava de que tocavam mal.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Escritas entre talvez 1828 e meados de 1833, publicadas em 1834 (com segunda edição no ano seguinte), as Histórias de Meninos não são a obra tardia que estas datas podem sugerir aos que, desprevenidamente, aceitam a que os historiadores da literatura vêm repetindo como aquela em que começaria o nosso Romantismo: 1825, com a publicação do Camões, de Garrett. No poema do autor futuro das Viagens na Minha Terra (obra esta que, sim, é já um marco de outra prosa) o que, na verdade, há de romântico, melhor, romanesco não chega a ser bem um sinal de mudança, do início duma corrente nova: o seu estilo permanecia neoclássico, até mais neoclássico que o de alguns pré-românticos.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

É positivo que, logo no reinado seguinte, o de Afonso IV, se ensaiou a perícia dos neófitos mareantes numa expedição às Canárias, cujos incidentes há cerca de cem anos (1827) se revelaram por acaso num relato coligido em Florença pelo autor do Decamerone, o ilustre Bocaccio.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E assim ali nós ríamos, conversávamos, dançávamos, enquanto com os seus velhos smokings os músicos no palco tocavam.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

A acção pública de Vilarinho de São Romão, em que não faltaram polémicas defendendo os seus pontos de vista quanto ao desenvolvimento económico do País, que sempre quis livre de tutelas estrangeiras, durou até 1846, quando o governo ditatorial de Costa Cabral o demitiu, mais uma vez, de todos os cargos, em que bem servira e nunca se servira. Então, repugnado, retirou-se para a aldeia, a ser outra vez lavrador. Certo, continuou a escrever, principalmente para jornais agrícolas, e em 1857 ainda apresentou à Academia, que a fez imprimir, como já antes ao seu Manual Prático da Cultura das Batatas e do seu Uso na Economia Doméstica (1845), uma Memória sobre a Epioenomia, ou Moléstia Geral das Vinhas. Sentia-se cansado, a não poder mais suportar incompreensões. E passou a viver em Lisboa ou no Porto, no Inverno, nos meses mais benignos e de lida agrícola em Vilarinho de São Romão; até que, de um hidrotórax, se finou aos 14 de Março de 1862.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Para defender o litoral das invasões do mar, D. Dinis planta vastos pinhais, prevendo a aplicação da rija madeira para a construção de navios. Este seu desígnio é bem patente, pois que, para adestrar os mareantes e para organizar a frota, chama das plagas italianas, berço dos nautas mediterrâneos, um hábil marinheiro genovês, o almirante Pessanha. E ainda, na sua maravilhosa previdência, o monarca institui a Ordem de Cristo, que fornecerá cabedais para as expedições marítimas.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Era dia de orquestra. A orquestra vinha duas vezes por semana duma praia vizinha. Os músicos eram magros e novos e tinham smokings velhos, ligeiramente esverdeados pelo uso e pela humidade das invernias marítimas. Eram músicos falhados: sem grande arte, com pouco dinheiro e sem fama. Espero que fossem revoltados: é menos triste. Um homem revoltado, mesmo ingloriamente, nunca está completamente vencido. Mas a resignação passiva, a resignação por ensurdecimento progressivo do ser, é o falhar completo e sem remédio. Mas os revoltados, mesmo aqueles a quem tudo -- a luz do candeeiro e a luz da Primavera -- dói como uma faca, aqueles que se cortam no ar e nos seus próprios gestos, são a honra da condição humana. Eles são aqueles que não aceitaram a imperfeição. E por isso a sua alma é como um grande deserto sem sombra e sem frescura onde o fogo arde sem se consumir.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Não cabe aqui examinar o pensamento económico desta figura a muitos títulos excepcional, das mais injustamente esquecidas do seu tempo. O leitor interessado pode para isso recorrer proveitosamente, por exemplo, à biografia, que nem por ser de um sobrinho do biografado é menos isenta, de António Luís Ferreira Girão, Notícia Biográfica do Visconde de Vilarinho de São Romão, publicada no Porto, em 1870, pela Livraria da Viúva Moré.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Com efeito, a seguir a D. Afonso III, seu filho e sucessor, D. Dinis, parece aprestar o reino para a transcendente empresa. Sábio e poeta a um tempo, funda a Universidade, a qual, a par das doutrinas teológicas e filosóficas, começara a difundir pelo País as ciências físicas e astronómicas. A estas últimas é provável ligasse um interesse o neto de Afonso «o Sábio», de Castela, em cuja corte ele as sentira, quando príncipe, dilectamente versadas; e é muito de crer que o legado de livros eruditos da especialidade, e talvez até de instrumentos náuticos, poderosamente influísse no futuro da navegação portuguesa.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

À medida que eu ia atravessando o hall ia dizendo «Boa noite» aos vários grupos. Depois espreitei através da porta da sala de jogo, que era de vidro. Os jogadores pareciam condenados à morte que tentavam entreter com calma as suas últimas horas. Estavam abstractos e suspensos e não me viram. Tornei a atravessar o «hall» e entrei na sala do baile.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Mal as tropas de Vila Flor-Terceira entraram em Lisboa, na manhã de 24 de Julho de 1833, Teixeira Girão apresentou-se a assentar praça. Mas logo a 28 o próprio D. Pedro o mandou chamar à fileira dos voluntários para lhe dar a incumbência, na qual se houve da melhor maneira e com rapidez que a todos espantou, de restabelecer o afluimento das águas a Lisboa, que os miguelistas em fuga tinham cortado danificando o aqueduto. Nomeado prefeito de Trás-os-Montes e em seguida transferido para a Estremadura, logo administrador da Casa Pia, que fez transferir de S. Lázaro para Belém, e inspector das Águas Livres e das fábricas anexas de louça e de seda, também seria restituído ao cargo, de que o tinham demitido em 1828, de provedor do Papel Selado. Em 1835, por decreto régio, foi feito visconde de Vilarinho de São Romão.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mal ultrapassam os limites da lenda, rica para os tempos primitivos de Portugal como para a proto-história nebulosa da Grécia, as façanhas atribuídas a seus primeiros combatentes do mar, entre os quais nomeias as vetustas crónicas o almirante Fuas Roupinho, açoute das galés mouriscas, cuja carreira heróica decorreu e findou no reinado do fundador da monarquia, D. Afonso Henriques. Mas as suas e as subsequentes acções navais integram-se na guerra secular travada para a constituição territorial da nacionalidade. Só depois de ela conseguida aparecem os primeiros indícios da política de expansão marítima, que devia alargar-se até os confins ainda ignotos da terra.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Havia três grupos escuros de homens e dois grupos mais claros de senhoras duma certa idade.

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