sábado, 31 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Realmente, em 1825, como ainda dez anos depois, mesmo escrevendo-se lá fora, como sucedia ao exilado Garrett, o Romantismo não era ainda possível para nós, não estávamos maduros, digamos, para ele nos ser prática. Como estética de grupo, ou de voz isolada, aqui faltava-lhe, por enquanto, o que só a revolução liberal vitoriosa pôde proporcionar: uma verdadeira atmosfera de liberdade. Do mesmo modo que também necessitavam dela obras neo-clássicas como a do Visconde de Vilarinho de São Romão, de outro modo condenadas a manuscritas e aferrolhadas em bem seguras gavetas, ou à circulação anónima, por cópias. Filinto, se pôde escrever e publicar livremente tudo o que escrevera, foi à custa de estar longe, amargando o exílio.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Outras expedições e explorações atlânticas, que verosímeis induções atribuem aos portugueses durante o século XIV, ainda não se acham esclarecidas por documentos incontroversos. O que se pode ter como provado é que dois objectivos essenciais contribuíam, desde a fundação da nacionalidade, para o desenvolvimento da marinha e para os progressos da navegação: a defesa do litoral continuamente infestado pelos piratas que aninhavam nos portos berberescos, e a indústria da pesca, que levava os arrojados mareantes a considerável distância das costas. Além disso, o tráfico marítimo tinha-se tornado florescente, graças à abundância de cereais, vinhos e outros géneros, cambiados com mercadorias que afluíam do estrangeiro.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Às vezes alguém se queixava de que tocavam mal.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Escritas entre talvez 1828 e meados de 1833, publicadas em 1834 (com segunda edição no ano seguinte), as Histórias de Meninos não são a obra tardia que estas datas podem sugerir aos que, desprevenidamente, aceitam a que os historiadores da literatura vêm repetindo como aquela em que começaria o nosso Romantismo: 1825, com a publicação do Camões, de Garrett. No poema do autor futuro das Viagens na Minha Terra (obra esta que, sim, é já um marco de outra prosa) o que, na verdade, há de romântico, melhor, romanesco não chega a ser bem um sinal de mudança, do início duma corrente nova: o seu estilo permanecia neoclássico, até mais neoclássico que o de alguns pré-românticos.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

É positivo que, logo no reinado seguinte, o de Afonso IV, se ensaiou a perícia dos neófitos mareantes numa expedição às Canárias, cujos incidentes há cerca de cem anos (1827) se revelaram por acaso num relato coligido em Florença pelo autor do Decamerone, o ilustre Bocaccio.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E assim ali nós ríamos, conversávamos, dançávamos, enquanto com os seus velhos smokings os músicos no palco tocavam.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

A acção pública de Vilarinho de São Romão, em que não faltaram polémicas defendendo os seus pontos de vista quanto ao desenvolvimento económico do País, que sempre quis livre de tutelas estrangeiras, durou até 1846, quando o governo ditatorial de Costa Cabral o demitiu, mais uma vez, de todos os cargos, em que bem servira e nunca se servira. Então, repugnado, retirou-se para a aldeia, a ser outra vez lavrador. Certo, continuou a escrever, principalmente para jornais agrícolas, e em 1857 ainda apresentou à Academia, que a fez imprimir, como já antes ao seu Manual Prático da Cultura das Batatas e do seu Uso na Economia Doméstica (1845), uma Memória sobre a Epioenomia, ou Moléstia Geral das Vinhas. Sentia-se cansado, a não poder mais suportar incompreensões. E passou a viver em Lisboa ou no Porto, no Inverno, nos meses mais benignos e de lida agrícola em Vilarinho de São Romão; até que, de um hidrotórax, se finou aos 14 de Março de 1862.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Para defender o litoral das invasões do mar, D. Dinis planta vastos pinhais, prevendo a aplicação da rija madeira para a construção de navios. Este seu desígnio é bem patente, pois que, para adestrar os mareantes e para organizar a frota, chama das plagas italianas, berço dos nautas mediterrâneos, um hábil marinheiro genovês, o almirante Pessanha. E ainda, na sua maravilhosa previdência, o monarca institui a Ordem de Cristo, que fornecerá cabedais para as expedições marítimas.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Era dia de orquestra. A orquestra vinha duas vezes por semana duma praia vizinha. Os músicos eram magros e novos e tinham smokings velhos, ligeiramente esverdeados pelo uso e pela humidade das invernias marítimas. Eram músicos falhados: sem grande arte, com pouco dinheiro e sem fama. Espero que fossem revoltados: é menos triste. Um homem revoltado, mesmo ingloriamente, nunca está completamente vencido. Mas a resignação passiva, a resignação por ensurdecimento progressivo do ser, é o falhar completo e sem remédio. Mas os revoltados, mesmo aqueles a quem tudo -- a luz do candeeiro e a luz da Primavera -- dói como uma faca, aqueles que se cortam no ar e nos seus próprios gestos, são a honra da condição humana. Eles são aqueles que não aceitaram a imperfeição. E por isso a sua alma é como um grande deserto sem sombra e sem frescura onde o fogo arde sem se consumir.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Não cabe aqui examinar o pensamento económico desta figura a muitos títulos excepcional, das mais injustamente esquecidas do seu tempo. O leitor interessado pode para isso recorrer proveitosamente, por exemplo, à biografia, que nem por ser de um sobrinho do biografado é menos isenta, de António Luís Ferreira Girão, Notícia Biográfica do Visconde de Vilarinho de São Romão, publicada no Porto, em 1870, pela Livraria da Viúva Moré.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Com efeito, a seguir a D. Afonso III, seu filho e sucessor, D. Dinis, parece aprestar o reino para a transcendente empresa. Sábio e poeta a um tempo, funda a Universidade, a qual, a par das doutrinas teológicas e filosóficas, começara a difundir pelo País as ciências físicas e astronómicas. A estas últimas é provável ligasse um interesse o neto de Afonso «o Sábio», de Castela, em cuja corte ele as sentira, quando príncipe, dilectamente versadas; e é muito de crer que o legado de livros eruditos da especialidade, e talvez até de instrumentos náuticos, poderosamente influísse no futuro da navegação portuguesa.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

À medida que eu ia atravessando o hall ia dizendo «Boa noite» aos vários grupos. Depois espreitei através da porta da sala de jogo, que era de vidro. Os jogadores pareciam condenados à morte que tentavam entreter com calma as suas últimas horas. Estavam abstractos e suspensos e não me viram. Tornei a atravessar o «hall» e entrei na sala do baile.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão - Pedro da Silveira

Mal as tropas de Vila Flor-Terceira entraram em Lisboa, na manhã de 24 de Julho de 1833, Teixeira Girão apresentou-se a assentar praça. Mas logo a 28 o próprio D. Pedro o mandou chamar à fileira dos voluntários para lhe dar a incumbência, na qual se houve da melhor maneira e com rapidez que a todos espantou, de restabelecer o afluimento das águas a Lisboa, que os miguelistas em fuga tinham cortado danificando o aqueduto. Nomeado prefeito de Trás-os-Montes e em seguida transferido para a Estremadura, logo administrador da Casa Pia, que fez transferir de S. Lázaro para Belém, e inspector das Águas Livres e das fábricas anexas de louça e de seda, também seria restituído ao cargo, de que o tinham demitido em 1828, de provedor do Papel Selado. Em 1835, por decreto régio, foi feito visconde de Vilarinho de São Romão.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mal ultrapassam os limites da lenda, rica para os tempos primitivos de Portugal como para a proto-história nebulosa da Grécia, as façanhas atribuídas a seus primeiros combatentes do mar, entre os quais nomeias as vetustas crónicas o almirante Fuas Roupinho, açoute das galés mouriscas, cuja carreira heróica decorreu e findou no reinado do fundador da monarquia, D. Afonso Henriques. Mas as suas e as subsequentes acções navais integram-se na guerra secular travada para a constituição territorial da nacionalidade. Só depois de ela conseguida aparecem os primeiros indícios da política de expansão marítima, que devia alargar-se até os confins ainda ignotos da terra.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Havia três grupos escuros de homens e dois grupos mais claros de senhoras duma certa idade.

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