terça-feira, 30 de junho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E já éramos poucos e apagava-se a luz da sala de baile, o hall estava deserto, na sala de jogo só já quatro jogadores esperavam a morte e quando entrávamos no bar um homem, sempre o mesmo, voltava-se no alto banco e, trazendo o seu corpo, vinha sentar-se connosco numa mesa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Belvedere!?... O seu apelido foi para nós sempre um mistério! Tinha emigrado de Lisboa, depois dos acontecimentos de 1833.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Mas esse ano de 1460, a que chegámos, é tristemente assinalado pela morte do Infante Navegador, o português que maior influência exerceu porventura na história do Mundo, pela sua iniciativa dos descobrimentos geográficos. À hora da sua morte deixava o contorno litoral de África delineado até além do Geba, o Rio Grande de Cadamosto. É certo que havia muito a fazer para que os homens chegassem ao conhecimento integral da Terra. Foi ele, porém, quem abriu o caminho, pois que quaisquer outras viagens, acaso anteriormente realizadas, não obedeciam a um plano sabiamente concebido, e foram escassíssimas em resultados práticos, tanto para a ciência, como para o comércio e para a colonização. Foi a tenacidade do grande Infante, favorecida pelo arrojo dos marinheiros portugueses, que conseguiu devassar os mistérios do Oceano e preparou a livre comunicação de todas as raças humanas através dos mares.

domingo, 21 de junho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

II

talvez poços,
secretas
fontes primitivas,
depósitos, recessos
onde haja
um pouco de água
que as raízes
procuram
de página
em página
com a sua obsessão,
múltiplos filamentos
trepassando
o papel,

sábado, 20 de junho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Estávamos à espera.

domingo, 14 de junho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Este moço pintor, que não alcançou um nome distinto na arte, tinha rara habilidade para apanhar semelhanças. Os retratos que tirou são como fotografias.

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Vê-se pois que, longe de guardar para os seus nacionais o exclusivo das navegações de descoberta, o grande Infante não duvidou aceitar os serviços oferecidos por estrangeiros cuja perícia fosse reconhecida. E a mesma norma de proceder foi geralmente seguida por seus sucessores.

sábado, 13 de junho de 2009

ÁRVORE - Carlos de Oliveira

I

As raízes da árvore
rebentam
nesta página
inesperadamente
por um motivo
obscuro
ou sem nenhum motivo,
invadem o poema
e estalam
monstruosas
buscando qualquer coisa
que está em estratos fundos,

sexta-feira, 12 de junho de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Encostado à ombreira duma porta, um homem solitário, alto e magro como uma árvore no Inverno, tirou o relógio do bolso e viu as horas. Depois guardou o relógio depressa como se tivesse vergonha do tempo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Para nos deixar uma lembrança e recordação grata, retratou a meu pai, minha mãe, minha irmã e a mim, que tinha pouco mais de cinco anos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Na sua segunda viagem, em que se juntou ao genovês António de Noli, alcunhado Uso di Mare, e em que continuou as explorações até o Rio Geba, pretendeu ele depois ter descoberto o arquipélago de Cabo Verde, para onde o arrojou um temporal. Está porém hoje provado que o descobridor desse arquipélago foi o navegante português Diogo Gomes, que em 1460 aportou pela primeira vez à ilha por ele denominada de Sant'Iago. Ia em sua companhia aquele António de Noli, que, por o ter precedido no regresso a Lisboa, durante séculos gozou a glória de que esbulhou Diogo Gomes.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Porque a espera, a espera das coisas fantásticas, visíveis e reais, a espera das coisas destinadas, prometidas, pressentidas, ia-se tornando quase lucidamente alucinada.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Tive o seu retrato, que, infelizmente, um acaso destruiu, há três anos, numa mal agoirada mudança. Era em papel e feito por Augusto de Belvedere, um português emigrado, que se hospedou muitos meses em nossa casa. (2)

(2) O Xaile de Maria Salomé foi publicado no jornal A Arte. Muito tempo depois recebi, de letra desconhecida, uma carta. Era de Augusto de Belvedere, que tinha visto o meu artigo e me escrevia, narrando-me alguns passos da sua vida. Tinha tomado aquele nome para fugir a perseguições, quando se estabeleceu o governo constitucional. O seu verdadeiro nome era José Vicente de Sales. Fora pensionado em Roma, para estudar pintura, por D. João VI e depois por D. Miguel de Bragança. O pobre velho terminava a extensa carta por estas palavras: «Vivo hoje na cidade de Braga, minha pátria nativa, precisando do mais necessário à vida e com 84 anos.» Um ano depois, passando por Braga, fui visitá-lo. Estava ainda de boa aparência e comoveu-se muito, lembrando-se que me havia retratado quando eu tinha quatro anos.

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