sábado, 21 de fevereiro de 2009

Prefácio a Histórias de Meninos, do Visconde de Vilarinho de São Romão

Mas o anticlericalismo ou antifradismo, nem gratuito nem demagógico, de Vilarinho de São Romão, que lhe deu algumas das suas melhores narrativas, não foi ele o primeiro a pô-lo em literatura entre nós. Lembremo-nos de Filinto, de tanta sátira metrificada de outros neo-clássicos, umas impressas, a maior parte jazendo até hoje inéditas. Por dar um exemplo, recorro a este soneto, achado numa miscelânea de 1813, «Aos Que São Religiosos por Força da Vontade dos Pais»:
Anda poupando o sórdido avarento,
Sem à boca ou vestido haver respeito,
Té se julga honrado e satisfeito
Se embestigou um filho num convento.
Entra o moço com grão contentamento
Um ano a trabalhar por ser direito,
no fim faz-se uma festa, e frade aceito,
Começa um novo estudo bolorento:
Uma filosofia tola e escura,
Uma vã teologia, e isto acabado
Entra a torpe ambição da prelatura.
Ele, e o pai, o reino têm roubado,
E esta capa de Deus e da clausura
De inúteis mandriões nos tem minado! (1)
(1) Poesias Particulares, de Diversos Autores. Anno MDCCCXIII, p. 142. Biblioteca Nacional, Res. Cod. 8582.

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