segunda-feira, 28 de setembro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

No Kursalon em bronze encarcerado
maestro de uma mania que não passa
Johannes Strauss rege a expedição
arqueológica às ruínas da valsa

domingo, 27 de setembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

Eu estava sentada em frente dele, do outro lado da pequena mesa. Ele esteve um longo tempo calado. Depois debruçou-se sobre a mesa e disse:
-- Ouve:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray,
Where all my dreams of yesterday
Are mine.

sábado, 26 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

Eu é que era um flagelo, um verdadeiro demónio para Maria Salomé, a minha ama, nessas tardes ruidosas e festivais. A ela, em ouvindo o tamboril, dava-lhe a vertigem da dança e do canto.

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Em 1486, graças ao prestígio alcançado entre a mourama pelas armas portuguesas, os habitantes de Azamor fizeram-se espontaneamente tributários do rei de Portugal.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

A equitação extingue-se em fiacres
e o turista aluga-lhe o verdete
No giro coagulado das sombrinhas
incrusta-se o monóculo do coreto

sábado, 19 de setembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

No entanto ele não se confundia com um deus. Nos deuses ser e existir estão unidos. Nele a vida vivida nem sequer era a serva do ser, nem sequer era o chão que o ser pisava, mas apenas acaso sem nexo, desencontro, acidente sem forma e sem verdade, acidente desprezado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

As senhoras de sangre azul dançavam com o primeiro camponês que viesse tirá-las. Recusar seria caso inaudito e estrepitoso. Estavamos nas terras dos fueros. Daquele sangue não saía o carrasco. O soberbo e sombrio Fernando VII entrou -- a pé -- nas ruas de Bilbau.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

O curto reinado de D. João II, o Príncipe Perfeito, El Hombre, segundo a designação enfática de Isabel a Católica, apesar das tribulações internas que o atassalharam, foi contudo pródigo de sucessos importantíssimos na exploração geográfica do litoral africano. Antes porém de os mencionarmos convém resumir os acontecimentos da empresa marroquina, a qual também não foi descurada.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

do filme em musselina das sissis
resta uma fímbria esvaída de veados
e bosques que das sobras de opereta
chupam delidos bichosos rebuçados

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

E, à medida que ele ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior à alma daqueles que o escutavam, como um mito. Ele era como um limite, como um marco que dissesse:
«Daqui em diante o mar não é mais navegável.»

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

A voz, extensa e afinada, gorgeando os zorzigos, que correspondem às malagueñas e playeras dos andaluzes. A pandeireta revolutenado nos ares.

domingo, 6 de setembro de 2009

NAVEGAÇÕES DOS PORTUGUESES - Henrique Lopes de Mendonça

Um navegador, de apelido Sequeira, ainda descobre o Cabo de Santa Catarina, a 2 graus de latitude sul. E é esta a derradeira descoberta realizada no reinado de D. Afonso V, falecido em 1481.

EXCURSÃO ÀS RUÍNAS DA VALSA - Natália Correia

Lateja o rio derramada aorta
nocturna e arterial é a sua queixa
não quer ser bailarino nem azul
mas o guia michelin é que não deixa

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen

A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura. Enquanto falava, abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul duma chama de álcool. E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa. Talvez:
A memória longínqua duma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O XAILE DE MARIA SALOMÉ - Bulhão Pato

As raparigas com as duas tranças, longas, atadas nas extremidades com laços de fitas de cores variadas e fortes; na cabeça uma flor do campo. A saia curta, a perna redonda, os jarretes finos, mas de ferro, como os seus monte nativos.

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