quarta-feira, 29 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E à medida que a noite ia avançando, à medida que quase toda a gente se ia indo embora, à medida que se ia fazendo tarde, a espera ia-se tornando quase consciente, quase visível. Dir-se-ia que o tempo perdido ia surgir e ser tocado.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Essa rapariga era filha daquelas bravias montanhas. Bailara e cantara à sombra das árvores do seu burgo -- a terra dos fueros!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Já uma expedição anterior, a de Dinis Dias, tinha chegado mais avante, ao Cabo Verde, , onde a costa começa a inflectir para sueste, para abrir o grande golfo, chamado hoje da Guiné.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Nas avenidas, nas tílias, nas varandas, no barulho dos passos sobre as ruas de saibro e areia, dos passos que faziam rolar as pequenas pedras soltas, no mar, igual a um búzio repetino o ressoar de passados temporais, e até no chão, nas mesas, nas cadeiras, parecia estar suspensa a espera dum regresso.

domingo, 19 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Quando eu nasci, meu pai ajustou uma robusta camponesa de Guernica para ser minha ama de leite. Maria Salomé tinha vinte anos ao entrar em nossa casa.*
*Meu pai e minha mãe eram portugueses, como eu me prezo de ser. Quando eu nasci minha mãe estava na força da vida e era robusta. Teve um abcesso nos peitos, e, com grande pesar seu, não pôde criar-me.

sábado, 18 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Para além do Cabo Bojador foi prosseguindo o reconhecimento da costa africana, interrompido ou afrouxado, por vezes, por investidas guerreiras ao norte de África e vários incidentes de política interna. Em 1441 Nuno Tristão chega ao Cabo Branco, e dois anos depois encontra a Ilha de Arguim, onde mais tarde se edificou um forte e se estabeleceu uma feitoria. Em 1445 entra Gomes Pires na foz do Senegal, grande rio de que os antigos geógrafos tinham vagas notícias, relacionando-o com o Nilo.

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Às vezes, de repente, no fundo dos espelhos havia um brilho que era o brilho duma hora antiga. E então era como se as antigas noites de Agosto e as abolidas tardes de Setembro pudessem, como D. Sebastião, voltar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Pode ser. Eu era a peste dos ninhos e Trueba, apesar do seu amantíssimo coração, é provável que também o fosse. Oh! as crianças -- os inocentes cruéis! -- disse Victor Hugo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

São bastante obscuros os inícios desta empresa. Existem vagas referências a uma expedição realizada, sem resultado, logo no ano de 1415, por um fidalgo, chamado D. João de Castro, assim como de outra, no ano seguinte, capitaneada por Gonçalo Velho Cabral, à qual recentemente se atribuiu a glória de ter dobrado o Cabo Bojador. Mas esta façanha só resta notícia autêntica de ter sido levada a efeito, após repetidas tentativas, em 1434, por um escudeiro do Infante, de nome Gil Eanes. E pode dizer-se que foi este o primeiro estágio da exploração geográfica do litoral africano. Já muito antes disso, entre 1418 e 1420, levados por idêntico desígnio, dois cavaleiros da casa do Infante, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, tinham descoberto o arquipélago da Madeira. Desbravadas e povoadas em curto prazo, foram estas ilhas as primícias da empresa ultramarina de Portugal. Mas outra expedição, realizada pelos anos de 1431 ou 1432, por ordem do grande Infante, mostra que este não se desinteressava pela procura de terras ao Ocidente, ao mesmo tempo que procedia à exploração metódica da costa que se prolongava pelo sul fora. Essa expedição, capitaneada pelo mesmo Gonçalo Velho Cabral, reconheceu as ilhas dos Açores, que parece já terem sido visitadas por portugueses desde o século XIV. É também essa a primeira escala da rota marítma que há-de conduzir os navegadores europeus, sessenta anos mais tarde, a um novo e desconhecido continente.

domingo, 12 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Pois ali se falava muito no passado. Constantemente nas conversas se contavam histórias das gerações anteriores, histórias dum tempo em que o existir era mais definido e mais visível, um tempo em que os sentimentos se tornavam actos e os destinos se cumpriam inteiramente.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Fui criado em Deusto, muito próximo de Bilbau a a quatro léguas das Encartaciones, onde nasceu António de Trueba, o insigne cancionista. Muitas vezes estive com meu pai nas Encartaciones. Sabe Deus se na minha infância, debaixo dos arvoredos daquele vale fertilíssimo, não assaltei os ninhos e apedrejei as nogueiras e os castanheiros, em fraterna vagabundagem com o autor das Mães, da Nódoa da amora e de tantos primores de arte, que andam traduzidos nas principais línguas da Europa!

Navegações os Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

Mas o mais metodicamente planeado, o mais ponderadamente prosseguido dos três empreendimentos, era o que dirigia para a Índia dos prodígios e das opulências as vistas proféticas do grande Infante. Para que aí aportassem navios europeus havia um problema prévio a resolver, o da comunicabilidade do Atlântico com o Índico. A circum-navegação da África era a tentativa que se impunha, implicando a consequente exploração do litoral africano. Foi sobretudo nessa gigantesca empresa, chamando a si homens entendidos em navegação e cosmografia, despendendo os ricos proventos da Ordem de Cristo de que era Mestre, vencendo os pavores e as abusões que obsidiavam as imaginações dos mareantes, que D. Henrique empenhou a força do seu génio e da sua perseverança. A bússola, o astrolábio, o quadrante, com a ciência arábica, assimilada por Afonso X, o rei sábio de Castela, e a cartografia conjectural dos cosmógrafos medievais, eram os elementos científicos, aliás bastante precários, que guiariam os nautas portugueses na audaciosa tarefa. Quanto ao material naval, era ele ao tempo principalmente representado por navios redondos, pesados e ronceiros, de velas de pendão que só permitiam navegar com vento da roda, e navios longos, de remo, que exigiam muitos braços como força motriz e não acomodavam provisões para viagens largas. Bem aconselhado pelos técnicos, o Infante recorreu então, como mais propícios para as suas explorações, aos barcos usados pelos pescadores da costa. E entre eles preferiu a caravela, derivada do caravo mourisco, embarcação ligeira mas sólida, que, com o seu aparelho de duas ou três velas latinas triangulares, realizava, acaso pela primeira vez no mar alto, aquele paradoxo,que ainda há menos de um seculo confundia o claro engenho de Teófilo Gautier, isto é, navegar com o auxílio do vento de encontro ao mesmo vento. Foi com efeito a relativa facilidade de bolinar que levou os navegadores portugueses a escolher e melhorar este tipo naval, precioso sobretudo para a torna-viagem das expedições africanas, habitualmente com ventos ponteiros do quadrante nordeste. O exemplo dos portugueses aproveitou a outras nações martítimas, especialmente à Espanha, que para as suas explorações adoptou, embora modificando-o, o tipo naval da caravela.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

E tão vagamente que muitas vezes era como se esperassem não o futuro, mas sim o passado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Xaile de Maria Salomé - Bulhão Pato

Nasci nas províncias das Vascongadas, na cidade de Bilbau. Uma bela província, uma heróica cidade -- a cidade de Diogo Lopes de Haro -- e que foi tão varonil na Idade Média, como intrépida para resistir aos assaltos da França, nos fins do século passado e princípios deste; que suportou com heróica perseverança, em 1835 e 1836, os repetidos cercos e, ainda, há sete anos, repeliu as arremetidas tigrinas dos servos de Deus e vassalos de D. Carlos de Bourbon -- o honrado e magnânimo.

domingo, 5 de abril de 2009

Navegações dos Portugueses - Henrique Lopes de Mendonça

As outras duas empresas eram de mais transcendente desígnio: rsgar para o oeste e para o sul estradas luminosas através do Mistério Oceânico, obumbrado de brumas e terrores. Para oeste, uma geografia fantasiosa povoava de ilhas e semeava de lendas a amplidão aquosa. Vislmbravam-se restos floridos da perdida Atlântida. E tradições nebulosas rezavam de aventureiros que tinham pisado essas terras ocidentais de maravilha.

sábado, 4 de abril de 2009

Praia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Mas não creio que ninguém, ali, nesse tempo, pensasse realmente no futuro. Só talvez dois ou três, cuja vida, mais tarde, tão eficiente e bem administrada, teve um ar de coisa previamente fabricada. Mas só esses. Os outros não faziam nenhum cálculo sobre o futuro. Para eles o presente era um prazo ilimitado de disponibilidade, suspensão e escolha. Não calculavam o futuro -- apenas, vagamente, o esperavam.

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